“Vacinar não é uma decisão pessoal, ela é uma decisão coletiva.” Ricardo Gazinelli – Pesquisador UFMG

  • As vacinas da COVID podem provocar alergias?

Muito mais fácil a pessoa ter uma alergia ao passar um creme no rosto, ou tomar um remédio pra dor de cabeça, do que ter uma alergia as vacinas.

  • Posso pegar Covid tomando uma vacina preparada a partir do vírus?

Não. As vacinas são feitas sem utilizar o vírus completo. A Coronavac do Butantã usa o coronavírus, mas inativado, sem a capacidade de replicar no organismo.

  • Há algum problema em tomar a primeira dose de uma marca de vacina e a segunda de outra?

Por exemplo, tomar a primeira dose da Coronavac e a segunda da Astrazeneca e Fiocruz na segunda? Não é recomendado que se utilize uma vacina na primeira dose e outra na segunda.

  • Depois da segunda dose, a pessoa está imediatamente imunizada?

A resposta é que devemos esperar, idealmente pelo ao menos um mês para a maturação do sistema imunológico de cada pessoa.

  • Quem tem câncer, diabetes ou doenças cardíacas pode ser vacinado?

Pode sim se vacinar. Essas comorbidades inclusive estão previstas nos grupos prioritários.

  • Como aquelas pessoas que são do grupo de risco vão fazer para comprovar a situação delas e terem prioridade na vacina?

É importante que cada um, cada idoso que vá comparecer ao serviço de saúde leve uma identidade ou um atestado que eventualmente comprove que ele tenha alguma condição especial.

  • É verdade que a vacina pode alterar o DNA das pessoas e que a Coronavac não é uma vacina segura por ser chinesa?

A China é um dos maiores produtores de vacina do mundo. Todos esses processos passam pelos crivos de produção, tanto do governo Chinês, quanto dos países que vão receber as vacinas. Inclusive aqui do Brasil. Em volta disso tudo, surgem muitas teorias conspiratórias dos mais diversos tipos. Que a vacina causa Autismo, que a vacina tem mercúrio, que a vacina tem Formol ou que a vacina altera o material genético das pessoas. Tudo isso é mentira. As pessoas que são contra fazem esse diversionismo, eles vão mudando o alvo do seu ataque para deixar as pessoas confusas.

  • Mulher grávida pode tomar a vacina? E as crianças?

No momento a gente não tem dados de segurança e eficácia da vacina em gestantes e crianças. Ainda não tem nenhum estudo em menores de 12 anos por exemplo. Então nesse primeiro momento a vacina não deve ser aplicada em gestantes e crianças.

  • A vacina pode ser aplicada em outro lugar, que não seja o braço?

Não. A vacina deve ser aplicada no músculo deltóide, que é o músculo do braço.

  • Quem já foi vacinado, ainda transmite o vírus?

A gente precisa de mais tempo de observação das pessoas vacinas para ter essa resposta. Os estudos todos focaram na eficácia da vacina, na prevenção da doença. Então a gente não sabe ainda se há realmente eficácia delas pra prevenir a transmissão.

  • Depois que eu tomar a vacina ainda terei que usar máscara?

É muito importante que as pessoas continuem usando máscaras e mantendo o distanciamento.

  • Quem já teve o COVID precisa se vacinar também?

Sim. A defesa que a vacina provoca parece ser de mais potência e de uma qualidade diferente do que a infeção natural. Então as vacinações não devem excluir quem teve COVID antes, embora eles possam ficar mais para o fim da fila e dar lugar ainda pra quem não teve.

  • Será que a vacinação vai ter que ser repetida todos os anos?

É possível. A gente vai ter que avaliar primeiro se a proteção proferida pela vacina vai se sustentar e se o vírus vai passar por alguma modificação que seja necessário também ajustar a vacina para fazer uma nova aplicação.

  • A Astrazeneca da Fiocruz que teve uma eficácia por volta de 70% é melhor que a Coronavac do Butantã, que teve uma eficácia por volta de 50%?

As duas são boas e essas diferenças são comuns acontecerem em projetos de pesquisa. São ambas extremamente úteis para o enfrentamento da pandemia. O que a gente precisa é de vacinas para ajudar a combater a pandemia pros brasileiros.

  • Como eu posso saber qual vacina eu vou tomar? E se tem mais ou menos eficácia?

Todo mundo vai receber aquele cartãozinho de vacina do Programa Nacional de Imunizações – PNI com o lote da vacina que foi aplicada. Ninguém poderá escolher a vacina, a vacina aplicada para os grupos de prioridade serão aquelas que estão disponíveis na de Rede de Vacinação do PNI.

  • Existe a melhor vacina do mundo?

Nós temos 5 vacinas que já mostraram resultados de eficácia até agora. Teremos provavelmente mais de uma dúzia até o final de 2021. Aí sim gente pode dizer que vamos ter uma vacina melhor que a outra. Ter 5 vacinas aprovadas em menos de 1 ano é um feito humano absolutamente extraordinário. A humanidade nunca pensou e nem nós mesmos que isso fosse possível, responder um desafio de uma maneira tão extraordinariamente positiva.

  • Quanto por cento da população deve ser vacinada para que possamos voltar a andar pelas ruas, sem máscaras e voltar a aglomerar à vontade?

Pelo estudo de eficácia, pela experiência que a gente conhece, de tudo que foi publicado até o momento e uma população diversa, predominantemente urbana no Brasil, com 86% de gente já aglomerada em cidades, eu diria que precisamos vacinar e alcançar uma cobertura de pelo ao menos de 60 a 70% da população brasileira. Essa resposta vai estar nos hospitais. Vamos ter que ver a vacinação crescer até o ponto em que o número de pessoas que procuram os hospitais, número de pessoas que é internado e principalmente aqueles que morrem da doença, ficar em um número tão baixo e deixar de ser um número significativo de programa de saúde pública e de sofrimento.

Ricardo Gazinelli – Pesquisador UFMG

José Cerbino Neto – Infectologista – Fiocruz e Instituto D’Or Esper Kallas – Infectologista – USP

Margareth Dalcomo – Pneumologista – PUC RJ

Fonte: Fantástico, dia 17/01/2021.